No quadro do feminismo decolonial, pretendo fazer uma reflexão sobre a operacionalidade do pensamento categorial de base ocidental e da respetiva linguagem para a compreensão das subjetividades e das lutas das mulheres, partindo de contextos africanos, em particular da África Ocidental. Trata-se de pensar a relação (im)possível entre as categorias que a teoria e a prática académica de base ocidental desenvolvem e as mulheres reais e o papel das histórias nesta equação. Se o género e o decolonial são instrumentos de desconstrução de sistemas de opressão e violência, o que sobra das mulheres concretas no final do processo de desdobramento teórico? Se a interseccionalidade surge como modo de ampliar o reconhecimento das opressões, o que se ganha ou perde no cruzamento das mesmas? O que cai no poço (sem fundo?) das categorias?
Na perspetiva inversa, que desafios colocam à teoria feminista e aos aparelhos teórico-metodológicos de diferentes disciplinas as “escrevivências” (Conceição Evaristo) das mulheres e as formas e linguagens com que as subalternas falam? A esta e a outras perguntas ensaiarei tentativas de respostas, ou talvez a mera abertura de perplexidades para uma ampla discussão, com base em entrevistas realizadas com feministas do movimento Yewu Yewi – Para a Libertação das Mulheres, que se desenvolveu nos anos 1980 no Senegal, bem como em histórias contemporâneas de mulheres africanas, articulando testemunho e ficção.
“O Género é incolor, insípido e inodoro”. O papel das histórias na relação (im)possível entre as categorias do pensamento sociológico e as mulheres reais.
Catarina Martins