O objetivo do painel é promover, contribuir e analisar criticamente a configuração atual dos diferentes países africanos, que enfrentam, a partir das suas experiências e realidades, desafios específicos derivados da história comum do colonialismo cuja sombra se arrasta até ao presente, nomeadamente, as instituições e os mecanismos introduzidos, até às mesmas lógicas que acabam por se reproduzir em solo africano. No entanto, após a independência, vale a pena perguntar, em primeiro lugar, até que ponto os Estados-nação conseguiram libertar-se do jugo colonial? Se não conseguiram, porquê, e o que é que isso significa para o continente africano no futuro? Identificar as continuidades do pós-colonialismo, em que a descolonização total não foi alcançada após a independência, bem como compreender de que forma está entrelaçada com a sua própria trajetória histórica, torna-se essencial para um diagnóstico profundo e honesto das patologias e sequelas da experiência colonial que enfraquecem e contribuem para o empobrecimento do rico continente africano. Neste sentido, como se pode ver no pensamento de Kwame Nkrumah, referência do pan-africanismo, a liberdade implica responsabilidade, fomentando, por um lado, no intelectual e no político, um profundo sentido de dever cívico e, por outro, assumindo a responsabilidade que essa liberdade acarreta, incluindo as consequências de pensar e agir de acordo com ela, oferecendo assim aos povos africanos uma proposta e um instrumento dotados de uma carga verdadeiramente emancipadora. Toma forma a partir do particular, dentro do Estado-nação, e estende-se ao geral, ao continente como um todo. Este processo implica avançar e liderar o seu próprio desenvolvimento, que não é apenas material. Por esta razão, é igualmente importante dotar este diálogo de substantivos críticos, o que, por sua vez, significa, para Santos, identificar adequadamente as ausências e as novidades, entre outras, na esfera política. Uma primeira abordagem tem origem no repensar de uma nova epistemologia indígena e negro-africana. Um diálogo devidamente articulado em que haja uma compreensão clara do que significa e implica proceder a partir da e para a descolonialidade, abrindo caminho para uma transformação profunda em direção a um futuro em que os africanos podem e devem decidir por si próprios. Como é que esta configuração pode ter lugar sem um diálogo sincero e sem a devida consideração e sobriedade pelas exigências que emergem dos diferentes cantos do continente? Este painel pretende criar este espaço para confrontar, a partir da sua complexidade e ambivalências, este processo através do qual as relações intersubjectivas entre subjectividades, cada uma dotada das suas próprias construções do mundo, estão a ser repensadas.
54. Potencialidades e ambivalências da luta pelo desenvolvimento na África contemporânea
Josephine Vaccaro
Universidad Complutense de Madrid