32. A violência em África: do sistema colonial ao mundo pós-colonial.

Gustau Nerín Abad
Universitat de Barcelona
Celeste Muñoz Martínez
UNED

A violência era um elemento estruturante dos sistemas coloniais. Para subjugar os africanos, os Estados coloniais tiveram de recorrer à violência, embora a combinassem com outras estratégias para controlar as populações colonizadas. No mundo pós-colonial, a violência invadiu de novo o continente africano, com guerras, movimentos insurreccionais, revoltas, ditaduras… As questões a debater nesta mesa redonda são: qual é a relação entre violência colonial e pós-colonial? São violências de signos opostos ou há continuidades? A violência pós-colonial é uma resposta à violência colonial? Será possível encontrar uma ligação entre estas violências e a violência pré-colonial?
Na altura da independência, o elevado nível de violência foi uma surpresa para os analistas e a violência colonial tendeu a ser vista como um mero subproduto dos problemas coloniais. Argumentava-se que os conflitos étnicos, regionais, religiosos, de identidade ou de classe respondiam a lógicas desenvolvidas durante o colonialismo que sobreviveriam brevemente à descolonização. A “violência estrutural” foi amplamente considerada como tendo sobrevivido à descolonização do continente africano. Para alguns autores, mesmo a explosão de violência vivida no continente foi apenas uma fase de adaptação ao novo estatuto, que duraria um período transitório.
Em todo o caso, foram formuladas interpretações muito diferentes.
Lange e Dawson, por exemplo, recorrendo a um vasto quadro estatístico, salientaram que não existia uma correlação significativa entre a violência colonial e a existência de conflitos pós-coloniais. Mahmood Mamdani abordou a mesma questão de uma outra perspetiva. Longe de considerar que todos os fenómenos violentos pós-coloniais derivavam diretamente dos fenómenos coloniais, analisou os conflitos identitários que surgiram após a independência, concluindo que as lógicas de atribuição eram radicalmente diferentes nos dois períodos, mostrando que os Estados-nação africanos não surgiram com a colonização, mas com a independência.
Charles Tilly, por seu lado, dá menos importância à violência do Estado, mas sublinha o papel desempenhado nos conflitos africanos pelas forças não estatais, que desenvolveram a repressão a níveis brutais.
Tilly considera que a existência de organizações especializadas na repressão brutal tem consequências directas no nível de violência, desde que não existam mecanismos de controlo social que afectem essas organizações. Este painel irá refletir sobre esta questão, especialmente a partir do caso do colonialismo espanhol em África. Tentar-se-á analisar se a violência do regime de Macías na Guiné Equatorial (1968-1979) foi uma continuação da violência colonial de Franco ou se foi um tipo de violência radicalmente diferente. Além disso, tentará perceber até que ponto certos procedimentos foram uma réplica da violência colonial, que apenas afectou os privilegiados do colonialismo, ou se as principais vítimas do colonialismo foram também vítimas do macismo. Serão tidas em conta as reflexões sobre a violência colonial apresentadas no contexto guineense-equatoriano por Celeste Muñoz e Gustau Nerín, e no contexto pós-colonial por Max Liniger-Goumaz. Serão tidos em conta os trabalhos de Josep Lluís Mateo Dieste e José Luis Vilanova sobre o caso marroquino.
Mas a reflexão colonial e pós-colonial no caso equatoguineense e no contexto espanhol deve ser comparada com outros processos que se desenvolveram noutras partes do continente: Uganda, Angola… O objetivo é uma reflexão que ultrapasse o quadro hispânico e sirva para analisar diferentes tipos de colonialismo em diferentes contextos africanos.

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